Indústria de ações: Brasil é campeão em jornalistas processados

09/06/2011 17:38

O segundo debate do Bapijor discutiu o relacionamento das fontes e dos jornalistas. Um dos debatedores, o jornalista e professor Cláudio Júlio Tognolli, da Revista Consultor Jurídico e da Universidade de São Paulo, apresentou dados alarmantes: o Brasil é o país com maior número de jornalistas processados. Em cinco anos, o número passou de 2 mil profissionais processados para 5 mil atualmente. Ele afirma que o fim da Lei de Imprensa fez surgir uma “indústria do processo”, pois hoje, os advogados baseiam-se no Código Civil e não há mais limite de tempo para o jornalista ser processado. Muitas vezes, o acusado é inocentado em instância superior e acaba processando o jornalista que divulgou o fato. Esses números alarmantes, no entanto, não são conhecidos do grande público, pois não há interesse das grandes empresas de mídia que haja essa divulgação.

Outro empecilho à qualidade do jornalismo investigativo, segundo Tognolli, é o predomínio na divulgação de informações fornecidas pela polícia ou pelo Ministério Público. Na pressa em não ser “furado” pela concorrência, o jornalista acaba divulgando dados brutos, sem uma apuração aprofundada. “Nosso jornalismo tornou-se mera cópia de documentos produzidos por autoridades”, afirma Tognolli. Sobre o jornalismo infiltrado, ou seja, sem a identificação do jornalista, deve seguir os limites da lei para que seja proveitoso e ético, segundo Tognolli.

O mediador da mesa, o jornalista e professor Marco Aurélio Braga, observou que em veículos do interior de Santa Catarina a realidade é diferente. Há um receio em divulgar informações primárias, e muitas vezes uma denúncia é publicada apenas após seu julgamento.

Rodolfo Barros, do jornal O Perfil, da Argentina, afirma que “o jornalismo é investigação, o resto é propaganda”. Também disse que a necessidade de generalização da informação faz parte do trabalho do jornalista. “O jornalismo navega em oceanos de um centímetro de profundidade. Devemos estar orgulhosos de sermos marinheiros a navegar em extensos oceanos, mas pouco profundos”, compara. Mesmo assim, o jornalista precisa ter conhecimentos básicos sobre as ciências ou as áreas as quais cobre, para poder obter informações mais contextualizadas e precisas.

Ainda falando sobre a relação de fontes e jornalistas, o professor da UFSC, Mauro César Silveira, afirmou que a relação entre as fontes e os jornalistas é proveitosa quando os dois pautam suas ações pelo direito da população a informação de interesse público. Relatou casos pessoais em que fontes qualificadas colocaram o interesse social acima de tudo, sendo aliados do jornalista. Para ele, as linguagens cifradas e difíceis não devem ser obstáculos intransponíveis. Entender os fatos acessados, rigor na apuração, relações profissionais fundadas no respeito recípocro, rede confiável para nos socorrer quando preciso são fundamentais no relacionamento entre fontes e jornalistas

 

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