Violência contra jornalistas e riscos conceituais da profissão preocupam

18/04/2012 19:50

Estiveram reunidos na tarde desta quarta-feira (18), para o Bapijor, os jornalistas Leandro Fortes, da Carta Capital, Luciana Kraemer, professora da Unisinos e uma das diretoras da Abraji e a professora da UFSC e representante do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, Vali Zuculoto. Com a mediação do professor Antônio Brasil, os palestrantes debateram os riscos profissionais e acadêmicos do jornalismo.

Luciana Kraemer enfatizou a importância da existência de políticas de proteção aos jornalistas. Políticas estas que são obrigação do Estado, mas se contrapõem à decisão brasileira de ir contra uma proposta feita pela ONU, neste mês. A jornalista coloca em discussão se a profissão é, ou não, um defensor dos direitos humanos, e acredita que a resposta seja sim. Com essa visão, ela reforçou a importância de proteção aos jornalistas, em vista dos números. Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalista (CPJ), 38 profissionais foram assassinados, de 1987 a 2012, no Brasil, sendo 30% deles por cobertura de pautas de corrupção. Kraemer vê no programa brasileiro de proteção aos defensores dos direitos humanos, em tramitação, como uma solução, espelhado no programa presente na Colombia. Para ela, a violência contra jornalistas é uma afronta à Liberdade de Expressão.

A professora Valci Zuculoto abordou em sua fala o risco que o jornalismo corre em função da separação entre o meio profissional e acadêmico, ressaltando a necessidade de promover a reconciliação. Para ela, apesar dos grandes avanços em termos de consolidação do campo jornalístico, de reconhecimento de sua autonomia, essa questão da necessidade de reconciliação entre a teoria e a prática continua sendo um desafio. “A universidade faz avançar, nesse sentido, a produção de pesquisas que contribuam para que a prática jornalística consiga definir e produzir o verdadeiro jornalismo, sua função e sua razão de existir”, afirma. Representando o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, Valci enfatizou a necessidade de discussão de questões como o diploma, a precarização da profissão e o piso nacional. Ao defender o diploma, também reafirmou a necessidade de que o jornalismo fale sobre sua condição na sociedade: “Valorizados e fortes lutamos e defendemos não só as conquistas corporativas, mas também o exercício ético, plural e responsável do jornalismo. Dessa forma lutamos e defendemos a democratização da comunicação”, ressalta.

Repórter há 26 anos, em 13 redações, Leandro Fortes trouxe para o debate a sua experiência e suas preocupações sobre os riscos que a profissão corre. Respondendo a 35 processos judiciais por suas investigações jornalísticas, Fortes destacou que a questão física da violência praticada contra jornalistas não é o mais preocupante: “O grande risco do jornalismo no Brasil é o de perdermos a percepção sobre a importância e o valor da profissão que estamos exercendo. Temos uma função muito nobre e acho que nenhuma outra profissão tem tanta inserção na sociedade”, observa. Para ele, a grande função do jornalismo é decodificar o drama humano e o que acontece no mundo. Isso, afirma, é uma coisa que só o jornalista com formação acadêmica é capaz de fazer. “Quando você abdicar da sua visão como cidadão e colocar os olhos de jornalista na cara, a sua vida vai mudar pra sempre. Você não vai conseguir nunca mais entrar em qualquer lugar sem ver uma pauta. Vai passar a vida inteira transformando a realidade em pauta”, destaca. Fortes ainda enfatizou que a desqualificação que o jornalismo sofre enquanto profissão é perigosa: “Essa história de que qualquer um pode ser jornalista é mentira”, afirma. Para finalizar sua fala, destacou que o jornalismo é uma atividade solidária, que nasce de um trabalho coletivo e vai para o coletivo, para a sociedade. “É um grande risco quando a competitividade dá o tom no jornalismo, essa é uma herança do neoliberalismo sobre a nossa profissão”, finaliza.

O Bapijor é uma promoção do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo (POSJOR) e do Observatório de Ética Jornalística (objETHOS), com patrocínio da Fapesc e PRAE/UFSC, e apoio da Abraji, Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina (SJSC), ACI, Fapeu e Departamento de Jornalismo da UFSC.

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